segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O que é Filologia Clássica?


Definição
A Filologia Clássica é a ciência que se ocupa de todo material transmitido durante a Antiguidade e escrito nas línguas grega e latina. O objeto desta ciência é, portanto, o mundo greco-latino, ou melhor "clássico", enquanto produziu monumentos sob a forma linguistica.
Consequentemente, está fora do âmbito da Filologia Clássica a Arqueologia, pois esta última se ocupa apenas da tradição material; do mesmo modo a História Antiga "strictu sensu", porque  no centro de seus interesses não está aquilo que os homens disseram ou escreveram, mas aquilo que fizeram, mesmo se há necessidade da Filologia Clássica como ciência auxiliar para entender os fatos históricos; permance também excluso tudo aquilo que foi escrito numa língua diversa do grego ou do latim.

Teatro de Trípoli (África Romana)

Tarefas da Filologia Clássica
Porque se trata de línguas que não se falam mais (línguas mortas), a nossa quase única fonte são os textos; a Filologia Clássica é, portanto, uma ciência textual, e por isso se distingue das "filologias" modernas. A menos que não apareçam novas descobertas no campo da Papirologia e da Epigrafia, lidamos, portanto, com uma ciência que se ocupa de um corpo "fechado" de textos.
Porque o ponto de partida são os textos, a primeira tarefa da Filologia Clássica é a reconstituição dos textos, isto é, a crítica textual. Os textos gregos e latinos nos foram transmitidos através de manuscritos; em virtude dos inevitáveis erros dos copistas no decurso de mais de um milênio, não é sempre fácil a "reconstrução" do texto como foi idealizado pelo autor.
Comumente o especialista em Filologia Clássica deve trabalhar com manuscritos medievais. A Papirologia e a Epigrafia nos dão, ao contrário, a possibilidade de acessar documentos escritos na antiguidade. Isto não quer dizer que seja possível ler uma obra literária no manuscrito do autor (nos melhores dos casos, com o famoso papiro que contém Os Persas de Timóteo, nos encontramos ainda diante de uma cópia escrita pelo menos uma geração depois da morte do poeta), mas a distância entre o autor e o manuscrito diminui cerca de mil anos.
Um outro mérito da papirologia e da epigrafia consiste em permitir o acesso a novos testos; se hoje a filologia clássica pode aqui é alí sair do corpo restrito dos testos, o deve a estas disciplinas.
A segunda grande tarefa da filologia clássica é o estudo da língua na qual os textos foram escritos. A crítica textual depende do conhecimento dessa língua, o estudo da língua, por sua vez, depende da crítica textual: um é impossível sem o outro.
A lingüística grega e aquela latina tem uma tradição mais que bimilenária e este fato constitui uma vantagem enorme em relação às línguas modernas; todavia, justamente por causa desta longa tradição, revela-se uma certa rejeição em se adotar novos métodos lingüísticos desenvolvidos pelas modernas filologias. Em todo caso hoje podemos admitir que todos os métodos da lingüística se aplicam também às línguas grega e latina, mesmo que prevaleçam, naturalmente, os assim chamados métodos tradicionais.
O exame da língua pode ser aplicado ao grego e ao latim, geralmente, à língua de um determinado período, à língua própria de um gênero literário, ou à língua - ou melhor, ao estilo - de um determinado autor ou texto.
A terceira tarefa da filologia clássica é o estudo da literatura sob os mais diversos aspectos de natureza literária. Este campo sempre ocupou largo espaço na filologia clássica. A exegese dos textos, especialmente daqueles poéticos, era já em uso no século IV a.C. Os métodos de exegese se refinaram ao longo dos séculos, mas as moderníssimas experimentações das ciências literárias ainda têm poucas repercussões na a filologia clássica, porque resultaram ineficazes em uma literatura totalmente diversa daquelas modernas, em uma literatura que não conhece, por exemplo, o princípio da originalidade. Por isso a crítica literária normalmente se serve, também essa, dos métodos tradicionais.
Restam ainda a delimitar os limites temporais da filologia clássica. O ponto de partida é fora de discussão: o estudo começa com os primeiros textos que chegaram até nós e com as conclusões que esses textos nos permitem elabora sobre as fases precedentes. è muito mais difícil responder à questão sobre o limite final da filologia clássica, porque não existe nenhuma cisão precisa: continua-se a se escrever seja em grego, seja em latim, mas em um certo ponto os textos em questão não interessam mais ao classicista, mas ao bizantinólogo ou ao medievalista. Aqui entra em jogo a fixação um pouco arbitrária, mas em todo caso útil, de um limite que naturalmente deve ser entendido lato sensu: os textos escritos até o ano 500 d.C. são objeto de estudo da filologia clássica.
(J. Kramer - B. Kramer, La Filologia Classica, Bologna 1979, pp.1-3)
trad.: AVRELIVS

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